Eu escrevi um texto bem interessante sobre um novo momento para o cinema brasileiro e o mesmo foi postado na WOO! Magazine. Com isso, achei interessante compartilha-lo por aqui também. Segue abaixo na íntegra:
Há muito tempo venho analisando diferentes tipos de cinematografia em grandes países. Desde métodos usados a estilos de trabalho e/ou tipos de produção. Uma coisa que me chamou muita atenção é que sempre tem alguém produzindo algo, mesmo que o produto final não seja tão bom. Entretanto, em meio a essas realizações, muitos conseguem ser destacados por festivais ou pelo próprio público (Quando esse, no mínimo, é liberado na internet). São produções diferenciadas, abrangendo diversos tipos de público e muitas dessas não possuem incentivos. Vendo isso, decidi escrever um pouco sobre o que vejo no mercado como diretor e espectador. Essa reflexão, antes que alguém pergunte, também serviu para que eu pudesse abrir meus olhos.
Desde a retomada do cinema brasileiro, em 1994, com o filme “Carlota Joaquina – A Princesa do Brasil”, de Carla Camurati, as produções de filmes no país começaram a crescer gradativamente. Diversos produtos foram colocados no mercado, mas ainda vivíamos à sombra do cinema norte americano, mais precisamente os Estados Unidos, que tomava o maior espaço nas salas de todo o país, com realizações milionárias que enchiam os olhos de qualquer ser humano. Duas décadas depois, a história permanece a mesma. Ou seja, os blockbuster’s americanos ainda são responsáveis por grande parte da fatia das bilheterias e, quando isso não acontece, produções mais simples se estabelecem em segundo lugar. O motivo por trás disso são dois: O Cinema como negócio e a diversificação dos gêneros e estilos de produtos.
Por melhor que seja fazer um filme arte ou algo interessante aos olhos específicos da crítica, quem compra o ingresso e/ou DVD (em maior quantidade) é o público. Por isso, é importante ouvirmos também o pedido desses, independente se gostam do drama ou de algo voltado para as artes marciais. O cinema existe para todos os gostos e não para um específico. Tem quem ama assistir filmes sobre a realidade brasileira, mas existem uma boa quantidade de pessoas que preferem sentar na sala de sua casa e ver um terror com os amigos. O problema é que determinados gêneros só nos são entregues por estrangeiros, com isso, são eles que abocanham as grandes fortunas. É simples, eles entendem o “Negócio”. Quer um exemplo? Lembra do clássico “Bruxa de Blair”? Não chegou a custar nem 1 milhão de dólares e faturou 300 milhões. Ou, melhor ainda, temos a franquia “Atividade Paranormal” que estreou com um orçamento de 15 mil dólares e obteve um retorno de quase 200 milhões e outros seis filmes que continuavam a história.
É necessário um aprofundamento da ideia de que cinema é negócio e precisa ser vendido, não apenas para a banca que decide se você possui ou não o direito de uma lei de incentivo ou para empresa que vai apoiá-lo, mas também para o público. Sendo assim, é importante analisar e ter consciência de que nem todo mundo gosta de violência ou só de comédia. A exacerbada demanda desse último nos anos passados (Não estou dizendo que são ruins, mas questionando o motivo da quantidade ao invés da diversificação), enquanto bons projetos estão sendo engavetados, faz pensar sobre o que está acontecendo. O discurso falido de que somente esse gênero leva espectadores para o cinema já não cola mais. Basta ver o quadro das maiores bilheterias mundiais. O que acontece é que só apresentaram ao brasileiro uma vertente, no máximo duas, não possibilitando um leque de opções a esse.
Outro ponto que é fundamental, é o fator quantidade. E, a melhor abordagem para esse exercício é experimentar. Pois, em teoria, tentar não custa nada. – Glauber Rocha sempre gritou em alto bom tom que para se fazer cinema era necessário apenas “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça”. Por muito tempo, duvidei dessa frase e tenho certeza que vários outros brasileiros possuem o mesmo pensamento. Mas, sabe de uma coisa, Glauber estava certo! Há décadas ele esbravejava o segredo de transformar o cinema brasileiro em uma grande potência e vários intelectuais entoaram sua frase, no entanto a maior parte desses só produziam se tivessem um incentivo fiscal. O que aconteceria se esses “incentivos” deixassem de existir. O nosso cinema iria morrer?!
É preciso testar, errar e tentar novamente ao invés esperar a boa vontade do governo. Esses saberão apreciar o seu trabalho quando começarem a vê-lo acontecer. O princípio da ideia é simplificar o máximo possível e realizar. Como diz Dov Siemens (Professor de cinema conhecido por ter tido nomes como Tarantino e Will Smith entre seus alunos) “Quem pede dinheiro ao governo, pede censura”. Sendo assim, corra atrás de sua experiência e faça acontecer sua ideia, mesmo que não enlace seus objetivos na primeira tentativa. Grandes profissionais do mundo também não conseguiram de cara e muitos de sucesso ainda não os atingiram. Inquestionavelmente, a melhor forma de aprender é estudar, mas praticar faz uma diferença absurda.
Praticar sem medo de errar não é uma nova onda, ela existe há tempos em todas as profissões. Inclusive, já foi acreditado e usado por vários cineastas de outros países e muitos deles estão se dando bem. Aqui no Brasil, mesmo que em pouca quantidade, algumas pessoas já perceberam que existe espaço para colocarmos nossos pés e já estão tentando mudar esse cenário. Novos projetos de ficção científica, heróis, terror, animação, suspense e até faroeste surgem a cada dia. E Mesmo que, em muitos casos, a abordagem desses não seja extremamente a mais original, ou não sejam tão excepcionalmente bem produzidos, é muito bom ver uma luz clareando outros caminhos.
Essa nova guinada promete bastante. E, com a possibilidade de novos e melhores equipamentos digitais, a imaginação vem se desdobrando, o que proporciona produções mais simples e baratas que podem até ser financiadas através de plataformas de incentivo. Quando é realmente impossível realizar um filme sem “grana” ou a ajuda de outros profissionais (o quais fazem muitas vezes no amor pela arte, e sem o apoio deles ficaria difícil), é possível ainda levantar uma pequena ajuda através desses sites que harmonizam a oportunidade de você ser apoiado por familiares, amigos e outros que, mesmo não sendo do ramo, simpatizam com a causa.
Através dessa perspectiva, uma vasta e diferenciada gama de filmes começa a tomar forma diariamente, e esses precisam ser estimados. “Hoje eu quero voltar sozinho para casa”, “Que horas ela volta?” ou as comédias “Até que a sorte nos separe”, “De Pernas para o ar” e “SOS – Mulheres ao mar”, já chegaram até o conhecimento de muitos e são ótimos naquilo que proporcionam, mas o catálogo é grande, com criatividade de deixar qualquer um de queixo caído ou, no mínimo, interessado pelo resultado final.
Aos empresários, uma dica: vale a pena investir no audiovisual brasileiro. Negociem o espaço e divulgação de sua marca. Ela poderá atingir milhões de pessoas. Quanto ao público: convido à todos reservarem um pouco mais do que o tempo guardado para assistirem quando o filme sair na Globo. E aos produtores e cineastas, eu digo: Temos profissionais de qualidade e ideias que podem garantir esse espaço. Por mais difícil que seja chegar lá, acreditem e lutem pelos seus objetivos. Deem a mão, uns aos outros, se necessário façam co-produções. Não percam tempo e produzam! Realizem de forma diversificada, ampliando o mercado e possibilitando algo a mais para o espectador, antes que esse sacie ainda mais sua sede em outras fontes. Afinal, nem todo mundo gosta de Coca-Cola!