“Um Brinde à Desordem” nasceu das entranhas da jovem Bárbara Ribeiro, que aos 22 anos – já fundadora da NOXI Companhia de Dança e pupila do renomado Jaime Arôxa – decidiu esmiuçar sua própria história em movimentos. Não foi um processo simples: foram noites intermináveis de ensaios no coração de Copacabana, onde cada passo, cada giro, cada queda no chão representava um fragmento de sua desconstrução.

O espetáculo revela cinco facetas de Bárbara – ou melhor, cinco mulheres que carregam seu nome, mas vivem em universos emocionais distintos. Há a Bárbara frágil, a rebelde, a que se perdeu em relacionamentos devastadores, a que sangrou, e por fim, a que descobriu sua própria ferocidade. Em cena, essas versões se entrelaçam como fios de um mesmo novelo, até o momento crucial em que percebem: juntas, formam uma tigresa. Não aquela dos contos de fadas, mas a verdadeira – aquela que, mesmo encurralada, sabe que pode matar ou morrer por sua liberdade.

A música e a dança se fundem num ritual quase xamânico. Influências do método Jaime Arôxa aparecem nos detalhes – um braço alongado, um quadril que desenha círculos perfeitos –, mas são subvertidas pela urgência da dança contemporânea. O palco vira selva, se transforma em arena, e o público, sem aviso, vira cúmplice dessa metamorfose.

Quando a última luz se apaga, fica claro: este não é um espetáculo sobre dança. É um soco no estômago da sociedade que tenta dizer às mulheres como devem se mover, amar e existir. Bárbara Ribeiro, com sua coragem crua, brinda com a desordem – porque foi no caos que ela encontrou sua própria voz.